domingo, 14 de dezembro de 2014

Paradoxo dos Gêmeos


De Marco Gemaque

         “Dois gêmeos A e B idênticos, estando o irmão A em uma nave espacial na qual ele viajará a uma velocidade muito próxima de c (Velocidade da Luz) - enquanto o outro, B, permanece em repouso na Terra. Para B, a nave está se movendo, e por conta disso ele pode afirmar que o tempo está correndo mais lentamente para seu irmão A que está na nave. Analogamente, A vê a Terra se afastar, pelo que ele pode, da mesma forma, afirmar que o tempo corre mais lentamente para B.
      Quando a nave retornar à Terra, qual dos dois efetivamente estará mais jovem?” (1)
      Em 1961, quando Yuri Gagarin chegou a Brasília, a primeira coisa que eu pensei foi no Paradoxo dos Gêmeos. Agora, 50 anos se passaram, onde estão os gêmeos? Paradoxos ainda há. Para o A, ou o tripulante de uma nave espacial, passaram-se apenas 5 anos, enquanto para o B, o que ficou na Terra, passaram-se os 50 anos. Logo, o A ficou mais jovem.
       E mais: pensei no ideal desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. 50 anos em 5 anos.
    Desta feita, imaginei uma conversa entre o astronauta Yuri Gagarin e o arquiteto Oscar Niemeyer:
– “A Terra é azul”, Oscar.
– “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” (2) – Completou Oscar.
– É verdade. – Confirmou Yuri.
         Agora, “Dois homens – Oscar e Yuri  –  com pensamentos idênticos, estando Yuri em uma Nave Espacial aterrissada, Brasília, na qual ele viaja a uma velocidade muito próxima da Esperança (Velocidade da Política)  enquanto Oscar viaja sobre uma linha curva no espaço sideral de Einstein. Para Yuri, o Mundo está se movendo, e por conta disso ele pode afirmar que a Esperança está correndo rapidamente para o Oscar que está no Espaço. Analogamente, Oscar vê o Mundo se afastar, pelo que ele pode, da mesma forma, afirmar que a Esperança corre mais rapidamente para Yuri.
        Quando a nave retornar à Terra, qual dos dois efetivamente estará mais jovem?” Ambos ficaram eternos. Oscar por desafiar as leis do senso comum ou ousar; Yuri por ter desafiado o senso comum e ter ousado também. E ambos desafiaram a gravidade da gravidade dos fatos – a esperança de um mundo melhor.
– “A impressão que tenho é a de estar chegando num planeta diferente”, disse Yuri ao chegar a
Brasília, no meio da Praça dos Três Poderes, sito no centro do triângulo equilátero idealizado por Lúcio Costa.
– “O ruim de Brasília é que quando a gente chega lá percebe que a cidade está inacabada”, completou Oscar.
        Eis o Paradoxo de Brasília. Ou o Paradoxo da Política:
        Duas naves que deveriam ser idênticas ou sem relatividade: Brasília (a Nave-mãe) e a Nave dos novos satélites ou Cidades Satélites, estando Brasília em uma nave espacial na qual ela viajou, ou viaja, a uma velocidade muito próxima do imediatismo (Velocidade da Política de Interesses) enquanto os satélites permanecem em repouso na Terra. Para os novos satélites, a Nave-mãe está se movendo rapidamente, e por conta disso eles podem afirmar que o tempo está correndo mais lentamente para Brasília que está na Nave-mãe. Analogamente, a Nave dos satélites vê a Terra se afastar ou a Nave-mãe a levá-la e levando a esperança, pelo que ela pode, da mesma forma, afirmar que a política corre mais lentamente para os novos satélites.
        Quando a nave retornar à Terra, qual dos dois efetivamente estará mais jovem?
         Agora, mais de 50 anos se passaram. E há 53 anos surgiu a nave Espacial de Oscar e há mais de 50 anos Yuri esteve no espaço sideral, em Brasília. Para Brasília, os seus tripulantes ou seus Reis, se passaram apenas 5 anos, enquanto para os novos satélites, os esquecidos, passaram-se os 53 anos. 53 anos de gravidade real – abissal cheia de ranhuras. Rugas.
        Assim Brasília ficou mais jovem. Sempre jovem. Não perdeu uma curva, esteticamente.
        A gravidade da arte a imitar a vida e a gravidade da vida a imitar a arte anularam a esperança da outra nave ou acionaram a gravidade da gravidade dos fatos, cujo peso da vida real desequilibra os belos Palácios que parecem ter nascidos alvoradas.
      Aquela gravidade da arte – com seus palácios refletindo o infinito – foi feita para levantar tudo ao seu redor e esta gravidade da vida – com seus Reis dentro dos palácios refletindo a imagem de tudo e todos – foi feita para caber todos dentro dos grandes pratos, dentro da grande praça, dentro das torres, dentro dos grandes palácios... dentro do grande triângulo de Lúcio Costa.      
      Posto isto, pensei no ideal imediatista de Juscelino Kubitschek: 50 anos em 5 anos.
      A arte é um grande paradoxo porque imita a vida real e/ou a vida real é um grande paradoxo porque imita a arte.
      Agora, a vida-arte ou arte-vida não cabe somente paradoxos. Não cabe sonhos desenfreados ou imediatistas: 50 em 5 ou 50 em 500 anos de História. Ou seja, não podemos transformar um quadrado num triângulo. Melhor: não se faz um triângulo com apenas dois lados:

      Porém, um triângulo, e triângulo equilátero, faz-se com três lados ...

MEIO.       E         FIM.                                                         COMEÇO.    E       FIM

COMEÇO.                                                                               MEIO


MEIO.    E  COMEÇO.

FIM.

      Brasília não é mais a meta síntese; porém, a síntese. E é simples, complexo e síntese. É a síntese de um Brasil inteiro. Mulher, homem e mulher-homem ou homem-mulher; reto, curvo e reto-curvo ou curvo-reto; preto, branco e preto-branco ou branco-preto, praça, teatro e porão... 
      Há que ser síntese, mas com começo, meio e fim; Poder Legislativo, Executivo e Judiciário numa grande praça brasileira, a Praça do Poder Poder Poder, logo todos com o Poder de Poder Poder.
OSCAR     NIEMEYER,     LÚCIO       COSTA      E    JUSCELINO     KUBITSCHEK

MULHER,   HOMEM   E   MULHER-HOMEM  OU   HOMEM MULHER

RETO,      CURVO     E   RETO-CURVO   OU    CURVO-RETO

ARTE,  VIDA     E   VIDA-ARTE OU  ARTE-VIDA

DIREITO,     CENTRO     E          ESQUERDO

NÓS                  VÓS                   ELES

EU                 TU             ELE

PODER       PODER.

PODER

O
      Eis um Não-Paradoxo:
    “Dois brasileiros A e B democraticamente iguais, estando o brasileiro A em uma nave espacial triangular equilátera, Praça dos Três Poderes, na qual ele viajará a uma velocidade muito próxima da esperança (Velocidade do Poder Poder Poder) enquanto o outro Brasileiro, B, permanece em movimento também; porém, fora do triângulo da esperança, dentro de um Satélite ligado a muitos satélites ou uma cidade de satélites, um País satélite.
      Para B, a nave está se movendo, e por conta disso ele pode afirmar que o tempo está correndo mais lentamente para seu irmão brasileiro A que está na nave triangular equilátera.  
      Analogamente, o brasileiro A não vê a cidade de satélites se afastar, pelo que ele pôde, da mesma forma, afirmar que o tempo corre mais lentamente para brasileiro B também, tempos iguais.
      Ou seja, o Brasileiro A está acoplado ao Brasileiro B, onde um vai o outro vai atrás, direitos iguais ou a simultaneidade não é relativa, pois o que os liga é um lado do triângulo chamado EDUCAÇÃO que cessa todos os paradoxos.
      A EDUCAÇÃO arquitetada sobre começo meio e fim: sem pular do 5 para o 50 ou do A para o Z, sonegando o processo natural.
B     -      E      D     U      C      A      Ç       à       O     -        B
R                                                                                     R
A                                                                             A
S                                                                     S
I                                                           I
L                                              L
E                                      E
I                              I
R                 R
O         O
                                                  AB                           CD EF GH ...


NOTAS
(1)   PARADOXO DOS GÊMEOS. In: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paradoxo_dos_g%C3%AAmeos >. Acesso em: 02 jul 2012.
(2)   OSCAR NIEMEYER. In: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Niemeyer>. Acesso em: 02 jul 2012.
(3)   HOFFMANN, Bruno. Para Yuri Gagarin, Brasília era um planeta diferente. Disponível em: <http://www.almanaquebrasil.com.br/curiosidades-historia/6522-para-yuri-gagarin-brasilia-era-um-planeta-diferente.html>.Acesso em: 03 de jul. de 2012.
(4)   ROSA, Mariana. 104 anos. Disponível em: <http://www.gpsbrasilia.com.br/noticias/525/154402/104Anos/?slA=1890>.Acesso em: 03 de jul. de 2012.





sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A Rosa antes do botão





Por Marco Gemaque

Esta é a valsa do nosso Johann Sebastian Bach brasileiro, que tinha nome de passarinho, ou Alfredo da Rocha Vianna Filho: o Pixinguinha. Porém, passarinho tão raro que ainda está longe de ser descoberto, talvez ninguém, nem biólogo, arqueólogo ou escafandrista... nem astrônomo conseguirão descobrir uma canção antes da nota. Pixinguinha é assim, o imprevisível choro antes das lágrimas, antes da emoção como Bach, a estrela antes da grande explosão. Ou seja, a Rosa antes do botão.

Interpretação de André Carvalho - www.duolequeharmonico.com.br - Rosa Pixiguninha
 Composição: Pixinguinha e Otávio de Souza 

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral. Oh, alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Desenredo

Por toda terra que passo

Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
Mas quando eu chego
Eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo
Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe