sexta-feira, 4 de maio de 2018

O chão da maré onde o mar está pra peixe e também pra urbanização e transporte .


Por Marco Gemaque



Se pensarmos em urbanização, é impossível não se lembrar da sua prima etimológica: a urbanidade, ou seja,  viver urbanamente é viver em harmonia no espaço em que o próximo tem respeito ao próximo ou há civilidade recíproca.
.
Agora, como viver em harmonia com um trânsito  caótico e poluído em todos os sentidos? Como viver urbanamente com uma política de transporte, cujo esforço se volta apenas para um ou dois modais,  a sonegar o transporte multimodal ? O que também não justifica a violência.
.
É a sustentabilidade que é atropelada quando há negação ou, simplesmente, o status quo voluntário, dentro de políticas públicas. Ou o lobismo voraz do transporte terrestre defendido pelas suas bancadas-matilhas - ora pregam a privatização, ora o estatutário - numa pantomima, a visarem apenas ao lucro de favores ou valores.
.
São os gargalos das rodovias que atrasam a logística da entrega dos produtos, inviabilizando o mercado e, por conseguinte, a economia à deriva sem garrafa de náufrago a pedir ajuda. São os homéricos engarrafamentos que fazem com que as pessoas percam uma grande porcentagem de suas vidas reificadas ao trânsito em que causa um dano irreparável.
.
O mister da busca à saída do problema da urbanização, nas grandes cidades, está em enxergar o transporte como algo polivalente, enxergar pelo caleidoscópio da nossa diversidade, a saber, terra, ar e, principalmente, água. Dessa feita, a navegação de cabotagem precisa entrar na pauta de políticas públicas, desafogando o trânsito e, o mais importante, a ligar as metrópoles ao interior  a fim de privilegiar o crescimento de pequenas cidades, sobretudo, povoadas por pequenos produtores, logo sem necessidade de êxodo rural sem planejamento.
.
Precisam-se de aeroportos, estações de ônibus, estações de trens, estações espaciais; porém, precisamos de estações hidroviárias. Precisam-se de estradas, de trilhos, de espaço, de pistas de voos, de infovias; porém, precisamos de rios. Como diz um poema do cancioneiro paraense que  canta em prosa e verso o ribeirinho do outro lado do rio, onde a sustentabilidade não é atropelada: “esse rio é minha rua (...) e deito no chão da maré”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opine!