sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A loteria dos concursos públicos no Brasil - Notas mínimas de um País mínimo


By Marco Gemaque

Notas mínimas de um País mínimo


Foram os chineses que inventaram o ingresso a órgãos públicos por via de uma seleção de provas objetivas: o concurso público. E o filósofo alemão Heidegger o trouxe para o ocidente, a fim de diminuir a ingerência política do Estado. Logo, o mundo todo copiou, porém, ao longo do tempo, se transformou numa batata quente, principalmente em países desenvolvidos, a contramão do neoliberalismo, pois aumentava os gastos públicos e a terceirização seria um ótimo caminho. O Brasil é um dos poucos países no qual há ingresso para o funcionalismo público para semi-analfabetos (o ensino fundamental incompleto). Não vamos entrar na questão do analfabetismo funcional, pois seria uma hecatombe na manhã da folha. Na esteira da globalização, o inocente jogo de azar transformara-se numa máquina de fazer dinheiro, financiando casas, atletas, educação, etc. Este, et cetera, o crime também. Fez-se, então, o concurso público ou/e a loteria. Esta transformando muitos pobres em milionários da noite pro dia e aquele, sonho de todo brasileiro em nível congênito, um caminho para a estabilidade ou um contraponto para a ingerência nacional( quimeras mil um castelo de autoafirmação que se ergueu ). Alguns coitados milionários ficam pelo meio do caminho: ora pela falta de cumulatividade, passando muito rápido de Assistente Administrativo a Antônio Ermírio de Moraes, ora pelos gananciosos de plantão. Lembrando Alguns concurseiros entram pra fazer uma prova como se tivesse entrando numa casa lotérica. Bingo! Cartão resposta ou bilhete lotérico?; Certo ou errado?; 34,60,45,87,29?; A idade de toda família ou a data de nascimento de cada um?; 73, b, 44,c,Todas estão corretas? (...) Eis a nossa esquizofrenia.
Quem disse que passar num concurso público é mais difícil que ganhar na loteria? A prova irrefutável desta mentira: milhares de concursos realizados pelas maiores instituições do Brasil. Então, vamos a justificativa da assertiva acima. O edital para o ingresso da AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS (ANTAQ), EDITAL N.º 1 – ANTAQ, DE 5 DE DEZEMBRO DE 2008, autarquia federal, cuja responsabilidade sobre o certame é do CESPE (UNB). Notei uma diferença no conteúdo programático para o concurso de 2009 em relação ao último, que foi em 2005, organizado pela mesma instituição (CESPE). Enviei o seguinte email para o CESPE: Por que incluir redação no curso de 2009, pois não houve redação no de 2005? Resposta: “devido ao número mínimo de acertos em 2005. Foram ingressados aos cargos com menos de 50% de acertos.” Sabemos que o CESPE formula uma prova de CERTO ou ERRADO com 110 assertivas que significa 110 pontos. Segundo o Edital “será reprovado nas provas objetivas e eliminado do concurso público o candidato que se enquadrar em pelo menos um dos itens a seguir: a) obtiver nota inferior a 6,00 pontos na prova objetiva de Conhecimentos Básicos (P1);10b) obtiver nota inferior a 24,00 pontos na prova objetiva de Conhecimentos Específicos (P2);c) obtiver pontuação inferior a 33,00 pontos na soma das notas obtidas nas provas objetivas P1 e P2.” Verificando o arquivo do CESPE, http://www.cespe.unb.br/concursos/_antigos/2004/ANTAQ2005/, identifiquei o absurdo que fez Martin Heidegger tremer no túmulo. Para o cargo de TÉCNICO EM REGULAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS/BRASÍLIA/DF. A 8º colocada, Jucie Oliveira Marciel, obteve 63.00. Isso significa 57,27 % de acertos de uma prova com 110 questões, ou seja, quase a metade. Ela estava dentro do número de vagas que era 8 vagas para Brasília/DF; ou o 7º colocado para Belém, Delmare de Castro Sacramento com 59 pontos de 110, ou seja, 53,63 % da prova. Esses são alguns exemplos de vários, tanto para nível superior como para nível médio. Neste link há todo resultado do concurso que oferecia cargos para técnicos (Nével Médio) e analistas (Nível Superior) : http://www.cespe.unb.br/concursos/_antigos/2004/ANTAQ2005/arquivos/ED_2005_ANTAQ_6_RES_FIN_OBJ_E_DO_CONC__NM__E_PROV_DIS__NS_.PDF.
Longe de imaginar que esses candidatos acima chutaram, longe.

Seria possível, como numa loteria, qualquer pessoa das 110 questões acertar 55%, ou seja, 60,5 .Deixando em braco algumas e com a ajuda do CESPE anulando 10 ou 15 das 110. Número esse suficiente para o ingresso em uma autarquia federal com salários entre 4.205,27 e 8.389,60. Fiz a seguinte experiência: coloquei a mesmíssima prova nas mãos de um primo meu de 12 anos. Este teve um número de acerto de 62,3% , ou seja, 56,1 das 110 (deixando em branco 10 e mais 10 anuladas):90. O amiguinho de minha sobrinha de 10 anos. Este acertou 60% ou seja, 66 das 110 (deixando em branco 9 e mais 10 anuladas): 91, ou seja, estaria entre os aprovados. Não acreditei e continuei. A terceira foi um adolescente de 15 anos, sem fazer nenhuma análise, apenas à maneira lotérica. Ele acertou 58%, ou seja, 52,2 da 110 (deixando em branco 10 e mais 10 anuladas): 90, isto é, seria uma das primeiras colocadas, tentando o ingresso para técnico em Belém. Finalmente, fui atrás de um amigo, o “Loberto”, um fanático por loteria, porém nunca tentou a sorte num concurso público. Dei-lhe os cadernos, nível médio e nível superior, de questões. Fez uma cara, típica de um jogador veterano de loteria, e começou a marcar. Em alguns minutos, entregou-me. Conferi o gabarito. “Loberto” acertou 73 % da prova para nível técnico e 60 % nível superior(dentro da mesma lógica dos anteriores: deixando em branco e com a ajuda do CESPE). Agora, qual a solução para impedir o chutômetro dos Lobertos Brasil afora? O próprio CESPE tem a resposta, e medíocre, pra solução, que sempre o faz em seus concursos. E o fez no concurso do Ministério da Saúde 2008: “A nota em cada item das provas objetivas, feita com base nas marcações da folha de respostas, será igual a: 1,00 ponto, caso a resposta do candidato esteja em concordância com o gabarito oficial definitivo das provas; 0,50 ponto negativo, caso a resposta do candidato esteja em discordância com o gabarito oficial definitivo das provas” No bojo dessa regra, somando o número de acertos positivo e número de erros negativos. Loberto acertaria 59,5 em vez de 73 %, pois a porcentagem de erros teria um peso influente sobre os acertos, embora pífia também esta maneira, pois vale pra todos, no entanto a redação é de grande ajuda. Ainda assim esta a cada concurso está cada vez mais sugestionável: se o concurso é do Ministério da Saúde o tema da redação é “a humanização da saúde” ou “o caos da saúde no Brasil”. Mais: não há crédito sobre a redação, pois num universo de 120 pontos colocar uma redação com 10 pontos. Apesar de tudo O CESPE tem o costume de anular dez questões ou mais e fica por isso mesmo. No concurso do MS2008, foram anuladas 11 questões para nível médio. Anular 11 questões num universo de 120. Isto é o suficiente pra desclassificar um candidato que não as acertou e favorecendo pra quem as errou.

O mais deletério, nas provas de Certo e Errado do CESPE, é forçar o candidato a deixar várias questões em branco, ou seja, chegará um tempo que o mínimo de acertos para ingressar no serviço público será de 30% a 40% de uma prova ou nota 3 ou 4: uma regressão pedagógica.

Este é o Brasil, de notas mínimas de um País mínimo ou, como disse Reinaldo Azevedo, “Máximas de Um País Mínimo” , um Estado que acredita anacronicamente num país de funcionários públicos, ímpar no mundo, e não tem uma legislação específica pra falta de respeito aos cuncurseiros-consumidores. É isso, estamos à sorte, e sem logística, : alea jacta est.





P



8 comentários:

  1. Caro Marco Gemaque
    O Edital do concurso da ANTAQ de 2005 afirma que a cada resposta errada corresponderia uma nota de -1,00.
    Assim:
    Seu primo de 12 anos téria -8,00 pontos;
    o Amiguino da sobrinha: 10,00 pontos;
    O Adolescente de 15 anos: 26,00 pontos;
    e o Loberto: 50,00 e 22,00 pontos, respectivamente.
    Ou seja, ninguém chegaria perto de ganhar nessa “loteria”.
    Por favor, faça sua crítica com os dados corretos. Perca alguns minutos conhecendo o objeto de suas críticas.

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  2. Correto José, eu tinha esquecido de colocar em porcentagem. É o obvio a minha ambigüidade. No parágrafo abaixo, falo acerca da regra de tirar – 0,50 de um acerto (1,0). A despeito do universalismo da regra posta no edital, mantenho a minha tese, pois o melhor remédio, a redação, é colocada num plano secundário. Nos tempos de ingerência predisposta qualquer sinal de jogo de azar como fio condutor de valores é perigoso. Fora disso até eu faço a minha fezinha. Quanto ao Loberto, ou seja, concernente à LOTERIA, loto? É uma personagem de uma dos meus contos. Obviamente que o desenvolvimento dessa narrativa é ficcional. Use-a pra apoiar a falta de respeito para com a escrita. Cuidado eu sou prosador.

    Obrigado pela visita!

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  3. Cara, vc é um prosador fajuto, ficou claro que números não eh a sua praia, concurso público tem que ser OBJETIVO, prova SUBJETIVA dar margem a FRAUDES, a prova de CESPE eh muito boa, ELIMITA os CHUTES, a LOTERIA que vc tanto falou, nunca li nada tão idiota, vc deveria escolher outras provas pra criticar, e não a prova da CESPE, Abraço.

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  4. É por essas e outras o meu brado redundante. A pontuação desse rapaz e a concordância são hecatombes em tão exígua fronha. Seja dito de passagem, os números são a minha justificativa: 50% de analfabetos e 70% de analfabetos funcionais, somando temos 120% de analfabetismo. Salve um lapso da memória, os números não são a minha praia, o parâmetro estatístico transbordou. Explico: o de que os outros 20% irão nascer, ou seja, o analfabetismo é hereditário e aqui não morre na praia, ela avança Bandeirante estatutário. A prova objetiva dá margem e uma involução psíquica, mal em detrimento da subjetiva. Dar oportunidade a redações ( agora sim usamos o infinitivo pessoal DAR). Repito: os números são a minha justificativa: 62 palavras e 50 erros. Não obstante o vento dessa praia não bate nas folhas de um livro, chuta-as, não lhe quer e não a quer, a gramática Pra aonde caminha a letra, b,c,d,e,f...?

    Obrigado

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  5. A minha opinião é o seguinte: é uma vergonha mesmo um país em pleno século 21 abrir concurso pra analfabetos. Sendo a terceirização um realidade adequada e profilática para uma economia livre (dinâmica. Outra coisa, não defendo o CESPE, só por que ele é de Brasília, tara, tara...Não posso justificar o sistema político atrasado, só por que o CESPE usa de criatividade extraterrestre pra formular uma prova de certo ou errado. Esta galera que defende o concurso público- como se fosse o time do coração - tem uma predisposição genética: "O meu filho quando crescer vai funcionário do Banco do Brasil". Ao contrario de outros paises desenvolvidos: "O meu filho quando crescer será um Eike Batista".Quanto à redação, é difícil num Brasil de analfabetos, faz jus ao bicho papão que ela representa. Qualquer prova diferente disto, ainda quando com a evasiva de objetiva ,há de haver o benefício da dúvida sobre ela.


    ATT

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  6. Eu fala sobre os da tua crítica, pois eu sou boa em números. Mas eu fis recentimente um concurso pro Conselho de medicima veterinaria pra vaga de auxiliar. Dos mais de 300 inscritos a metade faltou e de restante 11 ficaram detro da média que era 60%. Ou de mais de trezentos sobrar 11.è triste mesmo.Não precisa nem de IBGE. Eu acho mesmo que as concursando entram numa sala pra fazerem prova como numa casa lotérica. E a maioria nem entra. Isto indenpede de Instituição: CESPE, CONED,FCC, etc.

    Parabéns

    Marcela Barroso

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  7. Açai eu não acredito nisso. Eu acredito que a sacagem é maior. Por que não coloca no edital que as vagas são reservadas pra funcionarios da Companhias Docas e com experiencia na NASA. Cobra pra nivel médio pra descrever um porto graneleiro e depois coloca 50 questões que até o meu irmãzinho faz.

    Bjz , Sara

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  8. A prova do noves acontecerá agora nesse concurso. Se no primeiro a maior nota foi 70 e se neste, o atual, for 60 ou 55. Logo, o CESPE tem que rever o objetivo pedagógico dele. Este pensamento é pra quem pensa no futuro da inteligência humana. Agora, quem "pensa" em apenas no cago público, obviamente, não está nem ai: ora por puro voluntarismo, ora por involuntarismo. Acredito neste último.

    fuiiii!

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